Excerto: ... que a consciencia lhe ia dizendo, chorava. Simão, de uma fresta do postigo do seu quarto, espreitava ao longo do caminho, ou escutava a estropeada da cavalgadura. Ao descobrir Marianna, desceu ao quinteiro, despresando cautelas, e esquecido já do ferimento cuja crise de perigo peorára n'aquelle dia, que era o oitavo depois do tiro. A filha do ferrador deu o recado, sem alteração de palavra. Simão escutára-a placidamente até ao ponto em que lhe ella disse que o primo Balthazar a acompanhava ao Porto. -O primo Balthazar!...-murmurou elle com um sorriso sinistro-sempre este primo Balthazar cavando a sua sepultura e a minha!... -A sua, fidalgo?!-exclamou João da Cruz-morra elle, que o levem trinta milhões de diabos! mas v. s.a ha de viver em quanto eu fôr João. Deixe-a ir para o Porto, que não tem perigo no convento. D'hora a hora Deus melhora. O senhor doutor vai para Coimbra, está por lá algum tempo, e ás duas por tres, quando o velho mal se precatar, a fidalguinha engrampa-o, e é sua como dois e dois serem quatro. -Eu hei de vêl-a antes de partir para Coimbra-disse Simão. -Olhe que ella recommendou-me muito que não fosse lá-acudiu Marianna. -Por causa do primo?-tornou o academico ironicamente. -Acho que sim, e por talvez não servir de nada lá ir v. s.a-respondeu timidamente a moça. -Lá se quer-bradou mestre João-a mulher vai-se-lhe tirar ao caminho. Não tem mais que dizer. -Meu pae! não metta este senhor em maiores trabalhos!-disse Marianna. -Não tem duvida, menina-atalhou Simão-eu é que não quero metter ninguem em trabalhos. Com a minha desgraça, por maior que ella seja, hei de eu luctar sósinho. João da Cruz, assumindo uma gravidade de que a sua figura raras vezes se ennobrecia, disse: -Senhor Simão, v. s.a não sabe nada do mundo. Não metta sósinho a cabeça aos trabalhos, que elles, como o outro que diz, quando pegam de ensarilhar um homem, não lhe deixam tomar...
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