Excerto: ...Nasceste n'um folle, Melchior Pimenta! 113 XI Mulheres são os melhores juizes de mulheres. Disseram philosophos e moralistas, uns, grandes santos como S. Paulo, e outros, grandes atheus como Voltaire, que a mulher é um ser exuberante de sensibilidade, e apoucado de raciocinio. D'ahi vem o denegarem-lhes accesso ás sciencias abstractas, ás politicas, aos parlamentos, ao magisterio, ás regiões intellectivas do machinismo social, e mandarem-nas cuidar dos filhos, e fiar na roca. Se o absurdo vinga, se, por alvitre grosseiro do mais forte, a mulher é um ente inepto para exercitar a razão, com que direito as julgamos e sentenciamos, segundo a razão, sendo as suas culpas demasias de sentimento? A injustiça é flagrante e odiosa. Privam-nas de razão para as excluirem das funcções que a requerem; sentenceiam-nas pela razão, se o sentimento, seu dom essencial, as desvia do piso demarcado por ella. 114 Isto é uma tyrannia, uma inquisição, uma crueza turca. A mulher não pode ser julgada por nós. Somos os senhores feudaes da razão. A nossa alçada respira a prepotencia do baraço e cutello. Estamos em insurreição permanente contra o santissimo apostolado de Jesus, que baixou seu divino braço por igual sobre o homem e mulher. Não podemos superintender no fôro do coração, porque a nossa jurisprudencia é toda de cabeça, e o nosso codigo em pleitos da alma é estupido ou hypocrita. Quem é o juiz da mulher? O homem que a despenha do abysmo, onde a lançou o amor, ao abysmo do opprobrio. É o homem, que lhe entalha o ferrete da ignominia na face onde imprimira o beijo da perdição. O altar onde se adora uma mulher é ao mesmo tempo a ara onde ella se dá em holocausto. Peccadora por muito sentir e chorar, amar e crer, quando nos abre céos e céos de alegria e gloria, abrimos-lhe nós o inferno dos desenganos, e o supplicio extremo do descredito. O mundo não as exila, mas affronta-as; o coração não as encrimina, mas agonisa na...
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