Obra de maior envergadura do filósofo húngaro István Mészáros, Para além do capital, fruto de duas décadas de trabalho intenso, é uma das mais aguçadas reflexőes críticas sobre o capital em suas formas, engrenagens e mecanismos de funcionamento. Influenciada por Marx, Lukács e Rosa Luxemburgo, a obra de Mészáros é o desenho crítico e analítico mais ousado contra o capital e suas formas de controle social. Enquanto elaborava sua última obra Ontologia do ser social, Lukács disse que gostaria de retomar o projeto de Marx e escrever O Capital de nossos dias, promovendo uma atualizaçăo da obra de Marx. Coube a Mészáros contribuir para a realizaçăo de parte dessa empreitada. Em Para além do capital, Mészáros empreende uma demolidora crítica do capital e realiza uma das mais instigantes e densas reflexőes sobre a sociabilidade contemporânea e a lógica que a preside. Para ele, capital e capitalismo săo fenômenos distintos e a identificaçăo conceitual entre ambos fez com que todas as experięncias revolucionárias vivenciadas neste século, desde a Revoluçăo Russa até as tentativas mais recentes de constituiçăo societal socialista, se mostrassem incapacitadas para superar o sistema de metabolismo social do capital. O capitalismo seria uma das formas possíveis da realizaçăo do capital, uma de suas variantes históricas. Mészáros define o sistema de metabolismo social do capital como poderoso e abrangente, tendo seu núcleo formado pelo tripé capital, trabalho e estado - tręs dimensőes fundamentais do sistema materialmente construídas e inter-relacionadas -, sendo impossível superar o capital sem a eliminaçăo do conjunto dos elementos que compreende este sistema. Năo tendo limites para expansăo, o sistema de metabolismo social do capital mostra-se incontrolável. Fracassaram tanto as tentativas efetivadas pela socialdemocracia quanto a alternativa de tipo soviético. O sistema do capital seria assim essencialmente destrutivo em sua lógica, constataçăo que levou Mészáros a desenvolver a tese da taxa de utilizaçăo decrescente do valor de uso das coisas. Expansionista, destrutivo e incontrolável, o capital assume cada vez mais a forma de uma crise endęmica e permanente, com a perspectiva de uma crise estrutural cada vez mais profunda. Com a irresolubilidade da sua crise estrutural fazendo emergir, na sua linha de tendęncia já visível, o espectro da destruiçăo global da humanidade, a única forma de evitá-la seria através da atualizaçăo histórica da alternativa societal, da ofensiva socialista. O livro apresenta ainda um conjunto de teses centrais, que incluem a questăo feminina (efetiva emancipaçăo da mulher nas diversas formas de opressăo) e também a temática ambiental. Mészáros realiza uma síntese inspirada em Marx, mas que é também tributária da matriz ontológica de Lukács e, por outro lado, da radicalidade da crítica da economia de Rosa Luxemburgo, que o inspira da mesma forma.
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